2. Limpeza

O Islam encoraja a limpeza física e moral e nos ensina como alcançá-la. No Nobre Qur’an diz-se:

“…Allah ama aqueles que se mantêm puros e limpos” (Al-Baqara (A Vaca) 2:222) Também, O Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos estejam com ele) disse:

“Allah é limpo e ama a limpeza.” (Tirmizi, Adab, 41/2799)

Pode-se observar que o Profeta (que a paz e as bênçãos estejam com ele) deu atenção a todos os tipos de limpeza ao longo de sua vida. Por exemplo, quando ele estava indo a mesquita, sair em público ou visitar um amigo, ele costumava prestar muita atenção e se vestir de maneira impecável, usando perfumes agradáveis e evitando comer alimentos que produzissem mau-hálito, como cebola ou alho. Abu Kursafah (que Allah esteja satisfeito com ele) testemunhou o que será narrado:

“Minha mãe, minha tia e eu fomos até o Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos estejam com ele) para jurar lealdade a ele. Quando nós fomos embora, minha mãe a minha tia disseram para mim:

Meu filho, nós nunca vimos antes alguém como esta pessoa! Nós não conhecemos ninguém cuja face é mais bela, cujas roupas são mais limpas, e cujas palavras são mais leves. É como se luz saísse de sua boca.” (Haythami, VIII, 279-280)

O Islam trouxe um sistema que se estabelece sobre os princípios da limpeza, pureza e cortesia. Nosso Mestre o Profeta (que a paz e as bênçãos estejam com ele) disse, “Limpeza é metade da fé.”[1]Quase todos os nossos livros de Hadith e jurisprudência islâmica começam com o tópico sobre a limpeza. Como um principio básico de nossa religião, alguns atos de adoração são considerados não permitidos e aceitáveis sem que antes haja uma limpeza do corpo e do local. Neste quesito, as regras de como banhar-se são enfatizadas. É ordenado que nenhuma impureza deva manchar a roupa de um muçulmano e que esta veste deve passar por uma limpeza apropriada. O Mensageiro de Allah (que a az e as bênçãos estejam com ele) queria que seus seguidores fossem sensíveis a este tópico quando ele disse, “A maioria das torturas na sepultura é devido a não se importar em limpar-se de sua urina.”[2]

O Islam ordena que se lavem ao menos cinco vezes certas partes do corpo, tais como: mãos, boca, face, cabeça, orelhas, pescoço e pés pois estes tem mais exposição a  sujeiras e germes. O Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos estejam com ele) disse: “A chave para o Paraíso é o ritual da adoração, e a chave para o ritual da oração é a limpeza.”[3]

Assim, o Islam identifica a limpeza como um dever individual comparável a adoração, deste modo, quando as pessoas exercem atos de limpeza elas também ficam imbuídas com o sentimento da adoração.

Outro tópico que o Mensageiro de Allah enfatizou é a higiene oral. Por esta razão, ele nos aconselhou a usar o miswaq (raiz rica em flúor) em diversas situações e especialmente antes de realizar o wudu (ablução).[4] Ele também aconselhou a incrementar as bênçãos dos alimentos lavando as mãos antes e depois das refeições.[5]

De acordo com as necessidades de nossa natureza fazer a circuncisão, limpar e aparar os pelos pubianos e das axilas, deixar  a barba crescer e aparar o bigode, são algumas das regras das boas maneiras e do código de higiene que o Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos estejam com ele) nos inculcou.[6]

Assim como o Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos estejam com ele) prestou atenção com os assuntos referentes à higiene ele também deu muita importância a arrumação e ao asseio colocando-os no mesmo patamar. Mesmo se ele estivesse orando em uma sala e viesse até ele algum homem com aparência desleixada, o Profeta (que a paz e as bênçãos estejam com ele) indicava com a sua mão para que aquele homem arrumasse seu cabelo e barba.[7]

O Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos estejam com ele) não gostava que suas roupas estivessem com um odor desagradável. Certa vez ele tirou uma peça de roupa de lã porque estava cheirando mal devido a transpiração. A mãe dos crentes, Aisha (radiallahu amru) que narrou este episodio, também nos informou que o nosso mestre, o Profeta gostava das fragrâncias doces.[8]

Os Honoráveis Companheiros do Profeta eram o tipo de pessoa que se colocavam abaixo de seus pés. Eles trabalhavam até a hora de parar para a oração da sexta-feira (Salat al-jumuah) e deixavam o seu trabalho quando chegava a hora. O odor de seus corpos talvez refletisse tal fato, então nosso mestre, o Profeta disse a eles: “Porque vocês não tomam um banho nas sextas-feiras!” (Bukhari, Jumuah 16, Buyu 15; Muslim, Jumuah 6)

Os muçulmanos escreveram o Hadith que diz “Limpeza é metade da fé”[9] na forma de belíssimas obras de caligrafia e penduraram tais quadros nas paredes de suas casas e mesquitas. Eles se auto-exortavam nesta questão. O famoso arquiteto “Mimar” Sinam que construiu refeitórios públicos, camas d’água, bebedouros e banhos públicos em todos os cantos do Império Otomano para o bem-estar, conforto, higiene e conveniência aos crentes. Nas sociedades muçulmanas, a fim de que a limpeza fosse perfeita, se construíram banhos públicos em todos os lugares, até mesmo nas aldeias.

As casas dos muçulmanos são extremamente limpas. Eles nunca entram em suas casa usando seus sapatos. Cada canto é impecavelmente limpo permitindo-se que se realize o ritual da oração ali. Não há conceitos como o de “manter animais” dentro de casa. Eles não permitem nem ao menos pássaros dentro de casa. M. de Thevenot disse o seguinte sobre a limpeza e cortesia nas sociedades islâmicas:

“Os turcos levam uma vida sadia e raramente ficam doentes. Nenhum dos problemas de rim encontrados em nosso país e muitas outras doenças perigosas são encontradas aqui, eles nem ao menos conhecem o nome dessas doenças. Eu penso que a razão para essa perfeição de saúde deles reside no fato de tomarem banho com freqüência e serem moderados na comida e bebida. Eles comem muito pouco. O que eles comem não são compostos de vários tipos de comidas diferentes como os cristãos comem.”[10]

O Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos estejam com ele) foi enfático na proibição de se despejar lixo nas ruas e vias por onde as pessoas passam, nos locais onde as pessoas se refrescam, embaixo das árvores, ao longo das paredes e em todos os locais onde as pessoas param para se sentar, refrescar-se e relaxar. Um dia, ele reparou que alguém havia escarrado na parede da qibla (ou seja, na direção de Meca). Ele pessoalmente a limpou. Em seu rosto abençoado, a ira pelo poluidor era aparente.[11] Nosso Mestre o Profeta disse em outro honorável hadith:

“Os bons e os maus atos do meu povo são mostrados a mim. Entre os atos bons, eu vi a remoção de coisas ruins de uma estrada. Entre os atos ruins, eu i alguém cuspir em uma mesquita e não limpá-la.”[12]

Esse hadith especifica cuspir em mesquitas. Assim como mesquitas são locais de adoração a Allah, elas são também espaços de socialização. Crentes que tem grande cuidado com a limpeza desses locais sagrados também vão mostrar o máximo de cuidado com os locais que as pessoas geralmente freqüentam como trilhas, ruas e estradas que as pessoas utilizam. Manter tais locais livres de obstáculos que ponham em risco a saúde e o conforto das pessoas e mantê-los limpos é uma das obrigações do Islam. O Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos estejam com ele) enfatizou muito isso. Quando Omar (que Allah esteja satisfeito com ele) nomeou Abu Musa Al-Ashari como governador de Basra, ele listou manter as ruas limpas como pare de seus deveres.[13]

De acordo com uma narrativa, um zoroastrista tinha uma dívida com o Imam Azam Abu Hanifa (qaddasallahu sirâh). Abu Hanifa foi a casa do zoroastrista para coletar sua dívida. Quando ele chegou na porta, notou que seus sapatos estavam sujos. Ele então balançou os sapatos a sujeira respingou na parede do zoroastrista. Confuso e sem saber o que fazer, Abu Hanifa disse para si mesmo:

“Se eu deixar a parede como esta, ela dará uma má impressão sobre a casa do zoroastrista, porém se eu tentar limpar, a tinta da parede irá descascar.”

Então ele bateu na porta e disse ao criado:

“Por favor, faça o seu mestre ficar ciente que Abu Hanifa o aguarda na porta. Naquele momento o homem apareceu na porta pensando que o Imam Abu Hanifa iria tocar na questão do debito, e ele começou a se desculpar. Mas vossa eminência Abu Hanifa disse:

“Isso não é importante no momento” e perguntou como ele podia limpar a parede após explicar o que havia acontecido. O zoroastrista impressionado por aquele nobre e equilibrado ato disse:

“Deixe-me primeiro começar purificando minha alma” e naquele momento ele se tornou um muçulmano.”[14]



[1].      Muslim, Taharah 1.

 

[2].      Ibn-i Majah, Taharah, 26.

 

[3].      Ahmad, III, 340.

 

[4].      Bukhari, Jumuah, 8; Temenni, 9; Savm, 27; Muslim, Taharah, 42.

 

[5].      Ver: Tirmizi, Et‘ime, 39/1846.

 

[6].      Bukhari, Libas, 63-64.

 

[7].      Muvatta’, Shaar, 7; Beyhakî, Shuab, V, 225.

 

[8].      Abu Dawud, Libas, 19/4074.

 

[9].      Muslim, Taharah, 1.

 

[10].     M. De Thevenot, Relation d’un Vogaye Fait au Levant, Paris, 1665, p. 58.

 

[11].     Muslim, Mesajid, 52; Beyhaki, es-Sunenu’l-kubrâ, I, 255.

 

[12].     Muslim, Mesajid, 58. Naquele tempo não havia tapetes, carpetes ou similares nas mesquitas e o chão era de areia. Por essa razão havia certas pessoas que cuspiam no chão.

 

[13].     Darimi, Muqaddime, 46.

 

[14].     Fahruddin er-Razi, Mefâtihu’l-Gayb (et-Tefsîru’l-Kebîr), Beirut 1990, I, 192.

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